Nesse romance de estreia, John
Green já apresenta alguns dos traços marcantes que encontramos em seus outros
livros: humor sempre presente, adolescentes nos papéis principais e as típicas
mensagens transmitidas por metáforas.
A história se passa quase totalmente
em Culver Creek, um colégio interno que fica no Alabama, e é narrada por Miles
Halter, um garoto franzino de 16 anos que morava na Flórida antes de decidir seguir
a tradição de família e ir estudar na Creek. Miles é fascinado pelas últimas
palavras das pessoas, e toma essa decisão de sair de casa inspirado pela última
frase do escritor François Rabelais (“Vou em busca de um Grande Talvez”).
Então Miles parte em busca de seu
Grande Talvez. Chegando lá ele conhece seu colega de quarto, Chip Martin,
conhecido por todos como Coronel, que logo apelida Miles de Bujão (uma ironia,
pelo garoto ser muito magro). Pouco tempo depois, Bujão conhece Alasca, amiga
do Coronel e quase vizinha de quarto deles. A partir daí, o garoto vai se
apaixonando cada vez mais por ela, que é fascinantemente linda, segundo ele,
mas que tem namorado. Mesmo sendo Miles (ou Bujão, como é sempre chamado) o
narrador da história, muitas vezes parece que Alasca é a protagonista. Uma
personagem cheia de vida e de histórias pra contar, “descolada”, muito
inteligente, com uma personalidade forte, mas cheia de mistérios.
Bujão também faz outros amigos, como
Takumi Hikohito,
um japonês que gosta de rap e por vezes se sente excluído dos planos do grupo,
e Lara Buterskaya, uma romena tímida que em determinado momento namora Miles. O
grupo se diverte bebendo, fumando cigarros e passando trotes em vários outros
alunos e no “Águia”, reitor da Culver Creek.
A partir daqui, o texto
contém spoilers!
O livro é dividido
cronologicamente em “antes” e “depois”, sendo o marco zero a morte de Alasca,
que acontece depois de uma noite de bebedeira , quando ela tem uma crise e
resolve sair de madrugada de carro, por motivos que não são explicados. Ela acaba
sofrendo um acidente fatal, mas consegue se manter muito presente na história mesmo
depois de morrer, já que seus amigos mais próximos passam a investigar as
circunstancias de sua morte, que está carregada de mistérios. Muitas evidências
mostram que ela pode ter cometido suicídio, alem de várias outras perguntas sem
resposta, que deixam todos ainda mais arrasados, especialmente Miles.
Alasca era o tipo de pessoa
que todos gostavam, e por muito tempo os alunos e professores ainda sentem sua
morte e por vezes a homenageiam. Uma dessas homenagens é “o trote dos trotes”
que ela mesma havia criado e nunca teve a chance de efetuar. Miles, Coronel e
seus amigos o executam com maestria (“Por Alasca Young!!!”).
Cidades de Papel x Quem é
você, Alasca?
A situação entre Miles e Alasca
lembra muito o que acontece com Quentin e Margo em “Cidades de Papel”, outra
obra muito conhecida de John Green. A garota linda, carismática e meio maluca,
e o garoto tímido e sem graça que é completamente apaixonado por ela*. O
desenrolar também é parecido: em Cidades de Papel, a busca de Quentin por
Margot, que desapareceu misteriosamente. Em Quem é Você, Alasca? A busca de
Miles por respostas sobre Alasca, depois de sua morte. Em muitos outros
aspectos os livros se assemelham, como o fato de o garoto se aproximar mais dos
amigos depois que a garota se vai.
*Como leitora crítica, não posso
deixar de dizer que essas características mais externadas dos personagens se
revelam não muito verdadeiras ou importantes. Vamos descobrindo aos poucos que
Alasca está longe de ser perfeita (assim como Margo) e que Miles é muito mais
do que aparenta. Esses valores impostos aos personagens são por vezes
confundidos com estereótipos que vão sendo quebrados capítulo a capítulo, à
medida que se desenvolvem.
As metáforas e reflexões
Assim como em outros livros do
autor, em Quem é você, Alasca? temos personagens inteligentes que por vezes
trazem questionamentos profundos sobre a vida, e, neste caso, também sobre a
morte. Já no começo do livro, numa das primeiras conversas entre Miles e Alasca,
nos é entregue uma das questões sobre as quais a história se desenrola.
Cada pequeno acontecimento é
cheio de significados, alguns bem claros, outros que precisam de certa análise,
tudo muito bem encaixado de acordo com a personalidade de cada personagem. Um
dos pontos do livro é a atenção dada ao estudo religioso na Culver Creek e como
isso, além do professor que leciona essa matéria, influenciam Miles durante a
história.
Quem é você, Alasca? é uma
amostra do talento de John Green ainda no começo de sua vida como escritor: ele
consegue construir uma história totalmente envolvente e cheia de surpresas (e
algumas polêmicas?), ganhadora de diversos prêmios de literatura juvenil e que
conquistou fãs por todo o mundo, abrindo portas para outros sucessos futuros,
como Cidades de Papel e A Culpa é das Estrelas.